Querida Gameloft, já passou da hora de revitalizar franquias antigas

De lançamentos confusos ao esquecimento completo de franquias clássicas, a Gameloft tem errado muito quando o assunto é cuidar do seu amplo portfólio.

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– Sem respeito pelo próprio passado

Essa semana, o lançamento do SNES Classic, uma versão compactada do clássico Super Nintendo, comoveu a todos na internet. Não bastasse isso, a Big N anunciou que o videogame será lançado com Star Fox 2 na memória. Isso sim, é que é tratar bem uma franquia. Lançar um console retrô com um game bastante comentado na época, e que sequer foi finalizado no console original.

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A Nintendo é excelência quando o assunto é cuidar de suas IP (Intellectual property). Uma empresa que sempre se reinventa em games como Super Mario, The Legend of Zelda e outros. Além disso, foi uma das primeiras na arte de introduzir personagens de um jogo em outro.

Mas no universo dos games, não é algo exclusivo à Nintendo. Empresas como Blizzard adoram introduzir personagens de uma franquia em outra, criando e expandindo a mitologia de cada franquia.

No mundo mobile, eu gostaria de ver um tratamento similar de grandes empresas, especialmente da Gameloft. Contudo, parece que a produtora quer esquecer o próprio passado e vem insistido em focar apenas em novas IPs.

Por que Iron Blade não tem um protagonista de Soul of Darkness ou de Hero of Sparta?

 

Esse descaso com as próprias criações tem gerado algumas situações estranhas e até bizarras, que veremos nos tópicos a seguir.

– Universo expandido que não dialoga

Mesmo com um acervo tão grande de franquias, é de se estranhar que a Gameloft nunca tenha colocado personagens de um jogo em outro. Mesmo parecendo ser algo tão óbvio, e que com certeza os jogadores iriam adorar. Tudo que temos são pequenos e mínimo easter eggs.

Em 2017, uma atualização trouxe uma personagem cibernética para Modern Combat 5. Ela lembra muito Yelena do jogo N.O.V.A, mas não tem relação uma com a outra.

Poderia ser a Yelena né gameloft?

Outro exemplo dessa falta de tato em deixar as coisas mais interessantes, é o jogo de luta God of Rome, que já está esquecido pela própria Gameloft. Seria interessante ver guerreiros de Dungeon Hunter ou Order & Chaos. Mais interessante ainda seria ver lutadores de outros jogos de luta da produtora como Blade of Fury (iOS) ou Medieval Combat (Java).

Você lembra daquele título medieval de Justa da Gameloft? E o jogo de estratégia que a empresa lançou no começo da nova geração de smartphones. Não é Siegefall, e nem Total Conquest, muito menos March of Empires, estou falando de Rise of Lost Empires. Percebeu? São tantos jogos parecidos que até seus nomes se confundem.

 

A Gameloft não vai mal no quesito financeiro, mas a empresa perdeu sua relevância no mercado. De protagonista,  passou a simplesmente copiar produtoras menores que vieram depois dela.

 

Quer um exemplo de como a Gameloft não dá a mínima para as próprias franquias que cria? Ela possui quatro IPs focadas na temática zumbi, e nenhuma delas tem conexão uma com a outra.

Zombie Infection, Zombiewood, Ataque Zumbi e Dead Rivals (ainda a ser lançado), todos são jogos com temática de zumbi e, acredite se quiser, mesmo sendo todos da mesma empresa, eles se passam em universos completamente diferentes.

– Soft Launch confuso e desinformativo

A bagunça gerada pelo lançamento confuso do Gangstar New Orleans (GNO) permanece até hoje. E parece que o Modern Combat Versus vai passar pelo menos inferno até os jogadores do Android conseguirem rodar o game.

Esse descuido em deixar bem claro que se trata de um Soft Launch, faz com que tudo seja muito confuso para o usuário comum (não gamer). Quando o GNO foi finalmente lançado no Brasil, ele passou até despercebido no Android. Ainda hoje, grande parte do público pensa que o jogo nunca saiu.

Lançamento confuso deixou boa parte dos jogadores de fora de Gangstar New Orleans.

Reconheço que a Google Play não é muito preparada para esse lance de Soft Launch regional. Para a loja, basta lançar o jogo como beta global que ele fica marcado como (Unreleashed) ou (Não lançado), no mundo todo.

Em 2017, a Gameloft decidiu que os seus grandes títulos vão passar por esse tipo de Soft Launch confuso, cheio de restrições e que no final não gera o resultado esperado para o público. Ela deveria deixar todos os jogadores testarem. O game não está em Soft Launch? Quando for lançado globalmente a nota nas lojas será zerada. Então qual o problema?

– Clássicos esquecidos no passado

Num passado recente, a Gameloft preocupava-se em trazer a melhor experiência para os jogadores mobile. Os jogos eram essencialmente pagos e a produtora produzia apenas títulos Offline. Tudo isso parece um sonho distante para quem começou a utilizar smartphones de 2013 para cá.

Sacred Odyssey, o “The Legend of Zelda” da Gameloft.

Hoje em dia, a empresa continua com sua política forte de criação de novas IPs, mas não toma o mínimo cuidado para tratar bem os clássicos que ainda estão no imaginário popular.

Lista de jogos recentes para iPhone, iPad e Android que foram sucesso já é grande. São games que não ganharam nenhum tipo de sequência e que a empresa raramente fala em seus vídeos ou releases.

– Clássicos Java ainda mais esquecidos

É simplesmente um equívoco ficar criando IPs novas, desesperadamente, todo mês. Os jogos atuais da Gameloft não têm “substância” e, principalmente, apelo para ficarem no imaginário dos jogadores por longo tempo.

Cláaaaaassico Java.

Pior do que isso é esquecer o consumidor que viveu toda a era Java e pré-iPhone. Quando vai sair um novo Soul of Darkness? E o novo Castle of Magic?

A lista de franquias que a Gameloft criou na época do Java é absurda (tipo uns 50 jogos), mas vou listar aqui os games mais clássicos e nostálgicos.

  • Soul of Darkness
  • Castle of Magic
  • Alien Quarantine
  • Bubble Bash
  • Cops L.A. Police
  • Date or Ditch 2
  • A série Nights (Paris Nights, Miami Nights)

– De protagonista a coadjuvante no mercado

A Gameloft não vai mal financeiramente, mas perdeu sua relevância no mercado. De protagonista, a empresa passou a simplesmente copiar empresas mobile menores que vieram depois dela.

Antes, a produtora tinha foco em se inspirar em boas ideias de games para consoles. Trazendo jogabilidade marcante e gráficos de ponta. Agora, parece que a Gameloft se resume a tentar emular o sucesso de empresas que começaram depois dela. A última mancada foi um clone de Clash Royale totalmente desnecessário e mal feito.

Sério que esse jogo era realmente necessário?

Hoje em dia, os “nomões” do mercado mobile (quem realmente lucra alto) são empresas como Supercell, King e Machine Zone. Até mesmo a Miniclip aparece antes da Gameloft nos jogos mais rentáveis segundo Think Gaming (empresa de análise de mercado para acionistas).

Diante de tudo isso, fica cada vez mais difícil levar a sério os lançamentos da Gameloft. Já passados pela discussão de Freemium vs Premium. Agora a discussão é se os jogos da empresa vão continuar relevantes depois dos seus lançamentos. A empresa não tem emplacado um grande sucesso desde Asphalt 8.

E você o que acha? Será que daqui a 10 anos você vai lembrar dos jogos da Gameloft como lembrava dos jogos em Java? Deixe um comentário.

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  • Dario Coutinho

    O "Gamer de Celular" Original. Criou um dos primeiros sites sobre jogos para celular em 2007, que viria a se tornar o Mobile Gamer Brasil em 2009. Formado em Ciência da Computação, escreve sobre tecnologia há mais de 16 anos. Com passagem por revistas de games (EGW, Arkade) e sites renomados como Techtudo. E-mail para contato: [email protected]

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