Review: Diabo Immortal, tudo bem gostar de pay to win?

Após um anúncio desastroso na Blizzcon 2018, Diablo Immortal atravessou um caminho tortuoso até ser defendido pelas mesmas pessoas que o criticaram. Lançado há uma semana nas lojas de aplicativos, o game goza de boas avaliações, apesar do problema com smartphones com processadores Exynos.

Mas e aí, será que o jogo é bom? É Pay to Win? Vamos descobrir.

Coisas que você deve estar se perguntando e não encontrou em nenhum lugar:

Publicidade
  • Suporte a controles? Sim!
  • 12 GB de espaço? Sim e vai aumentar muito.
  • Dublagem em português? Pode ser que seja atualizado no futuro, como aconteceu com Hearthstone.
  • Problema nos Samsungs? Sim, mas apenas em celulares com Exynos.
  • Tem final? Não, o jogo não tem final. Só termina quando o “serviço” for encerrado.

Por que Diablo Immortal está sendo um sucesso?

Diablo Immortal foi desenvolvido pela NetEase Games a mando da Blizzard. Com versões para Android, iOS e PC, o jogo é um MMORPG com câmera isométrica em que os jogadores vão embarcar em uma jornada infernal para combater as forças de Skarn.

“Pera, mas o jogo é um RPG hack’n slash de ação né?”

Será mesmo? Ele é isso também, mas depois que o mundo “se abre”, você vê, encontra, e faz party com dezenas de jogadores pelo caminho. Pode interagir com eles, conversar e tudo mais. O combat é hack’n slash, mas ele é essencialmente um MMORPG.

Como assim não é MMO? (Foto: Reprodução).

Você pode até checar a descrição nas lojas de aplicativos. A própria Blizzard classifica ele como um MMORPG.

Foi lá? Voltou? Prepare-se para o choque!

 

Modo PvE bem pensado

Diablo Immortal é um game muito bem produzido, que traz toda aquela aura do terceiro jogo da franquia para a tela do celular. Com muitos personagens da lore original de Diablo, Immortal parece até uma pseudo sequência.

Dono de uma direção de arte belíssima e quests dubladas (em inglês, chuto que pode ganhar dublagem BR no futuro), Immortal tem muitos elementos que lembram MMOs que já chegaram ao mobile.

Então qual o segredo do sucesso?

O segredo do sucesso é simples e ao mesmo tempo chocante. A Blizzard poderia ter sido muito mais gananciosa… no começo do jogo.

Acredite, poderia ter sido muito pior.

Atualização, e foi, veja aqui: Diablo Immortal: streamer gasta mais de R$ 30 mil e não ganha item lendário.

Mesmo com a polêmica dos US$ 110 mil dólares (R$ 535 mil reais). Caso você não saiba, alguns youtubers fizeram as contas de quanto custaria upar seu personagem ao máximo em pouco tempo.

A Blizzard empurrou a monetização para depois de quase 20 horas de jogo. Ao chegar no nível 60,  você vai sentir falta de algum incentivo financeiro, ou começar a ter seu progresso “freado” pelo próprio servidor.

Então, você tem cerca de 15 a 20 horas de gameplay gratuita sem qualquer tipo de chateação. As primeiros oito horas, são literalmente brincadeira de criança.

Diablo Immortal faz o balanceamento da dificuldade conforme você joga em grupo ou sozinho. (Foto: Reprodução).

E não é uma gameplay tão chatinha assim como em outros MMOs. Em parceria com a NetEase, a Blizzard soube equilibrar o desafio para deixá-lo acessível. Embora nas primeiras oito horas de jogatina, o game seja muito fácil.

Em adição a isso, foi feito algo impensável para muitas produtoras de MMORPG: Diablo Immortal não possui batalhas automáticas!

 

Diablo Immortal tem limitadores e energia?

Diablo Immortal não possui limitadores de energia na forma tradicional como conhecemos, como a resina de Genshin Impact. O segredo aqui é o drop.

O drop de itens e a experiência usados para upar seu personagem são ajustados para que o seu progresso seja “freado” aos poucos.

Então se você quer upar ao máximo seu personagem, prepare-se para farmar bastante,  algo em torno de oito horas por dia ou mais. É isso ou comprar gemas lendárias.

Nessa hora, seu cérebro faz a famosa barganha: “bom, já joguei umas 20 horas e estou gostando , não tem nada demais gastar um pouquinho”. O problema é que o game tem lootboxes, e esse pouquinho pode virar um “poucão”.

Mas calma que tem mais. Se você quiser rushar logo para virar o “f*dão” do servidor, e acabar com todos, pode apostar que  Diablo Immortal não deixará a tarefa tão fácil assim.

Achou que não iria ter limitadores… achou errado O….(Foto: Reprodução / Facebook).

No PvP, a Blizzard está fazendo um bom trabalho de matchmaking, colocando apenas os jogadores de nível próximo para duelar.

Com isso, não há muitos estímulos para quem já chegou no limite da campanha. Resta apenas farmar ou torrar grana nas fendas para ir upando seu personagem.

“Mas vai levar 10 anos para upar o personagem ao máximo sem gastar”.

Por isso que é importante aprender um termo que é atribuído aos jogos assim:

 

“Game as a service” (jogo como um serviço):

Um jogo Free to Play lançado assim, nunca é um game “pronto”, acabado, como um jogo premium (pago).

Diablo Immortal vai ser ajustado, balanceado, irá ganhar novas quests, DLCs e muito mais.

Não é um game pronto.

 

“A essa altura do campeonato, o grande público já sabe disso né?” Sabe nada!

Vira e mexe lança um “game como serviço” ou até mesmo um “gacha”, e a galera vai emocionada criticar ou elogiar.

Publicidade

O mais engraçado é quando o jogo se revela “full pay to win” e a galera que defendia, começa a usar os argumentos mais estapafúrdios para tentar defender o indefensável.

Isso pode acontecer com Diablo Immortal.

Vamos ver no futuro como a Blizzard e NetEase vão trabalhar a frustração e motivação dos jogadores. Eu não esperaria essa “caridade” toda para sempre.

Até agora, é possível avançar bastante na história sem se preocupar com build ou em farmar itens raros. Mas é óbvio que isso vai mudar num futuro muito próximo.

Atmosfera de Diablo 3 está presente em Immortal (Foto: Reprodução).

 

Tem lootboxes? Tem sim!

Para surpresa de zero pessoas, Diablo Immortal é lotado de compras embutidas. Com direito a lootboxes de até R$ 550 reais, o game é simplesmente abarrotado de compras embutidas.

Há sim itens cosméticos, mas a maioria das compras é para “play to fast”, que é um termo bonitinho que inventaram para tentar fingir que um game não é pay to win. Ora, quem upa mais rápido, vence mais rápido também. Barganha lembra?

Lootboxes em Diablo Immortal podem custar até R$ 550 reais. (Foto: Reprodução).

Entretanto, apesar dos limitadores e compras embutidas, a coisa aqui poderia ser muito pior.

Em outros jogos de MMO para mobile é comum as desenvolvedoras esfregarem compras embutidas na nossa cara e tornar o progresso impossível. Com Diablo Immortal, pelo menos no momento, isso não acontece.

 

Sem auto-battle, todo MMORPG deveria ser assim

Para mim, o grande destaque de Diablo Immortal, e grande acerto da Blizzard, foi retirar as batalhas automáticas.

Caso você seja novato por aqui, e não tenha jogado muitos MMORPG mobile, saiba que batalhas automáticas são a coisa que mais odeio nos jogos de celular.

 

Não tem nada mais anti-gaming do que a empresa dar uma opção de “não jogar” e apenas assistir o game “se jogar sozinho”.

 

A lógica é simples: se não quer jogar, não jogue! Se a tarefa é repetitiva demais, a culpa é do designer das missões, do jogo. Sacou?

 

Diablo Immortal trouxe uma dura lição, que foi popularizada primeiro com Genshin Impact, e com o sucesso do jogo da Blizzard, espero que ela se propague mais.

Os jogadores não suportam mais a quantidade absurda de jogos automáticos na Google Play e App Store. Principalmente jogadores de MMO. Ninguém aguenta mais o milésimo MMO com batalhas automáticas (auto-battle).

Queridas desenvolvedoras: tirem, ou pelo menos escondam, o auto-battle dos seus MMORPGs. Trabalhem o sistema de batalha para ele ser desafiador e divertido. Pensem no longo prazo!

E todos esses jogos poderiam ser melhorados com uma simplesmente mudança.

Por exemplo, é ridículo que em pleno 2021 e 2022, a Netmarble lance dois jogos lindos como Seven Knight 2 e Ni no Kuni: Cross Worlds, e ambos são completamente destruídos pelo auto-battle.

Para os jogadores que pretendem ser as “baleias” do servidor, e que vão gastar uma quantidade enorme de dinheiro, um auto-battle faz sentido. Mas esse tipo de jogador, na realidade, nem se interessa pelo enredo ou jogabilidade, ele só quer “o cara” no servidor.

O modo auto-battle, como costumamos chamar, é uma coisa que tira o foco do gameplay. Os jogadores passam a mirar apenas no objetivo de “upar” e esquecem o mundo do game. Então a coisa mais importante da obra, o jogo, sai da equação e entra e no lugar apenas o $$.

Então todo um universo que foi construído para um MMO, passa a valer absolutamente nada.

Outra dica importante, que o sucesso de Immortal e Genshin deixam bem evidente, é que muitos jogadores estão interessados na história e no PvE. E muitos deles estão dispostos até a pagar uma pequena quantia mensal por um passe de temporada.

 

Conclusão

Diablo Immortal, para mim, é muito parecido com vários outros MMORPG free to play que vejo na Google Play ou App Store.

Contudo, o simples fato de esticar o tempo em que o jogador vai sentir a necessidade de gastar dinheiro, e tirar o auto-battle, tornou o jogo muito melhor. Toda produtora que tem um “MMO falido” nas mãos deveria experimentar fazer isso.

O modo PvE do Diablo Immortal possui uma história que não é tão interessante, mas cumpre o seu papel . Apesar de bem feito, o game não chega aos pés de Diablo 3 e muito menos do segundo jogo.

Entretanto, como um jogo gratuito para baixar e jogar, Immortal funciona muito bem. O combate é divertido e bem balanceado, com os inimigos sempre em um nível parecido com o seu.

Nosso mantra com relação a jogos free to play, aliás com todo game, é esse: jogue até onde achar divertido.

Mas Diablo Immortal  é ou será Pay to Win?

Óbvio que sim! E nem adianta achar que não, ou tentar mudar o termo para “pay to fast” (pague para acelerar), se você paga para upar mais rápido, você está pagando para vencer “mobs” mais rápido, ou seja, pay to win.

Mas a questão não é essa. A questão é que o modo PvE é bastante amigável, e permite que o jogador jogue bastante, muito mesmo, de forma gratuita.

Diablo Immortal está te entretendo? Está se divertindo? Tudo bem. Mas a partir do momento que seu cérebro começa a fazer barganhas para gastar em lootboxes, saiba que você caiu na armadilha.

 

Nota 6/10

    by
  • Dario Coutinho

    O "Gamer de Celular" Original. Criou um dos primeiros sites sobre jogos para celular em 2007, que viria a se tornar o Mobile Gamer Brasil em 2009. Formado em Ciência da Computação, escreve sobre tecnologia há mais de 16 anos. Com passagem por revistas de games (EGW, Arkade) e sites renomados como Techtudo. E-mail para contato: [email protected]

Google News