O problema do “Smartphone Gamer”

Com a chegada do Lenovo Legion e o anúncio do ROG Phone 5, vimos uma enxurrada de youtubers brasileiros querendo te vender da ideia de que vale a pena comprar um smartphone gamer.

Muito além das especificações exageradas, fica a dúvida sobre a utilidade de tudo isso. Até celulares antigos de 2018, continuam sendo muito bom para jogos. Muitos intermediários premium de 2020 e 2021, rodam games pesados com certa facilidade nas configurações de vídeo “alta” ou “muito alta”.

Algo que fica bastante claro é a “inutilidade” do smartphone gamer. A coisa só ficar pior para nós brasileiros, onde “tá tudo muito caro”.

Para que serve um Smartphone Gamer? Essa é uma pergunta que vamos tentar responder.

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Primeiro vamos ao contexto atual…

– O surgimento dos celulares gamers com Android

No ano de 2017, o Razer Phone chegou e muita gente ficou se interrogando para que serviria um dispositivo com “luzinha”.

A Razer deu a largada nos “celulares gamers” da nova geração. (Foto: reprodução)

Foi apenas quando o seu primeiro rival, o ROG Phone, apareceu em 2018, que as coisas começaram a esclarecer.

O ROG Phone, e outros smartphones gamers que chegaram em seguida, ofereciam chipsets diferenciados, os famosos Snapdragon “plus”.

Com processador e resfriamento otimizados, os smartphones gamers com Android rapidamente conquistaram o público gamer. Viraram sonhos de consumo.

Foi a partir do lançamento do ROG Phone que os celulares gamers com Android começaram a se popularizar. O aparelho da ASUS tem muitos recursos únicos tais como: gatilhos táteis, portas USB-C com saída HDMI, tela com alta taxa de atualização e opções para tunar os jogos.

Contudo, outras empresas rapidamente começaram a adicionar nos celulares premium e intermediários, vários recursos de smartphones gamers. Um belo exemplo são os aplicativos que oferecem hubs de games e que eliminam notificações e até ligações durante a jogatina.

As coisas começaram a ficar sérias quando o ROG Phone chegou ao mercado (Foto: Reprodução)

Para piorar, para os smartphone gamers, muitos celulares atuais oferecem as tão sonhadas taxas de atualização de 90hz e 120hz.

A oferta de smartphone gamers é muito grande. Muito mais do que o necessário.

Os celulares top de linha atuais são capazes de rodar jogos pesados, gravar a tela e fazer livestreams com uma “mão nas costas”.

Os smartphones gamers mais recentes oferecem tela de 144Hz, modo 120fps, até 18 GB de RAM.

Ninguém precisa de 18 GB de memória RAM em 2021 e nem em 2025.

Até mesmo 12 GB de RAM é surreal. Para quem tem muitos games e, principalmente, dezenas de apps, 8 GB de RAM “segura tudo”, numa boa. ASUS e Xiaomi, por exemplo, ainda vendem tops de linha com 6 GB de RAM.

Ninguém precisa de tudo isso. Nem mesmo pro-player, pois muitos competitivos ainda não oferecem suporte a modo 120fps no ocidente.

– Para quem é indicado um smartphone gamer?

Com a atual crise, inflação e dólar galopante, optar por um smartphone gamer pode parecer um ato de pura ostentação. Mas existem casos bem específicos onde a compra de um dispositivo vai parecer um ato de sanidade (mas não é).

O primeiro caso é se você é produtor de conteúdo. Se você faz vídeo de games ou pretende fazer isso em breve, a compra de um smartphone gamer é totalmente justificável.

Muita gente, além de jogar, quer gravar suas gameplays. Isso vai exigir um poder de processamento além do simples: “rodar o jogo a 60fps”. Será preciso gravar em 60fps também.

Item de ostentação ou luxo desnecessário? (Foto: Reprodução)

Porém, não é preciso você ir tão ao extremo assim para conseguir gravar suas gameplays. Existem diversos aplicativos disponíveis na Google Play e até opções dentro de smartphones de marcas como Xiaomi e Samsung que permitem gravar gameplays a 60fps e com áudio interno do jogo. Eles funcionam muito bem em dispositivos intermediário ou top de linha antigos.

O segundo caso é para a pessoa que deseja fazer streaming dos seus jogos, fazer transmissões ao vivo em plataformas como Twitch, Omlet, Youtube e etc.

Ao “streamar” seu jogo favorito, os smartphones são bastante exigidos. Caso você conecte ele em um computador, para espelhar a tela, a bateria pode descarregar mesmo assim e mais ainda caso você faça a transmissão direta do smartphone.

Ao fazer horas de transmissão ao vivo direto do celular, é preciso ter um dispositivo que aguente isso sem esquentar muito.

Porém…

– Ninguém precisa de smartphone gamer para fazer stream

Por anos, o iPhone 7 e 8 eram escolhidos por muitos usuários para serem os dispositivos mais fáceis para espelhar a tela.

A Apple era a escolha certa por conta do conector lightning que oferece a possibilidade de transmissão de áudio e vídeo da tela, sem nenhum tipo de dificuldade. Basta comprar um Adaptador HDMI, uma placa de captura e “pimba”, transmita seus jogos em 1080p@60fps com a ajuda de um PC.

Mas as coisas são diferentes hoje em dia. E nem precisa ir para os smartphones gamers para ter um stream de qualidade.

Como dito no começo do artigo, a oferta de recursos nos smartphones Android “comuns” é muito acima do que os usuários necessitam.

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Até mesmo o artifício de stream, cai por terra com métodos como o Scrcpy, um pequeno projeto que espelha a tela do smartphone no PC via USB. Recentemente, ele ganhou um fork com um Sndcpy, que permite transmitir também o som do jogo para o computador.

– Scrcpy e outros métodos

A Google começou a oferecer o recurso de espelhar a tela via USB desde o Android 5.0, ainda em formato experimental.

Mas os geeks e nerds de verdade, já descobriram isso e começaram a utilizar o recurso para extrair o máximo dele.

Muitos gamers usam o método do Scrcpy, um pequeno projeto independente do Github que oferece transmissão da tela do smartphone via USB 2.0 com qualidade 1080p e até 60fps.

Muita gente usa esse método para espelhar a tela no PC e usar um cabo P2, na entrada de áudio do computador, para reproduzir o áudio do jogo.

Entretanto, há a “evolução” dessa gambiarra. Com o Sndcpy, os usuários além de transmitir a tela, transmitem o áudio interno do smartphone também. Você pode ver como essa nova versão da “gambiarra” funciona no vídeo abaixo.

Utilize Sndcpy com um bom cabo e portas USB 3.0 e você terá uma qualidade tão boa que vai parecer uma saída USB-C de vídeo.

 

– R$ 6 mil em um smartphone gamer? Não obrigado!

Como visto no tópico acima, o principal apelo de um smartphone gamer, que seria o streaming de jogos pesados caiu por terra com o combo Scrcpy e Sndcpy.

Enquanto isso, recursos exclusivos como taxa de atualizações altas já estão presente em smartphones top de linha e até intermediários.

Veja uma lista de jogos com suporte a 144 fps, 120 fps e 90 fps.

O problema dos smartphone gamers atuais é que eles são muito potentes e muito caros. Seria como ter um console da nova geração e só por jogar games antigos (“ei, é exatamente o que está acontecendo… 🤪”).

Muitos smartphones intermediários possuem nativamente aplicativos para otimizar a performance para jogos e modelos mais atuais contam com telas com taxa de atualização entre 90hz e 120hz.

– Enfim, ninguém precisa de smartphone gamer … CARO!

O problema do smartphone gamer é que ele é desnecessário. Além de tu que ele foi citado acima, ainda há a questão dos modelos mais antigos, que valem muito mais a pena que os modelos atuais.

Claro que os smartphones gamers têm o seu diferencial.São aparelhos que estão no limite de performance e que entregam tudo em nome do gaming.

Mas ninguém precisar pagar tão caro pelos modelos atuais. É totalmente desnecessário.

Sim, esse é um site de jogos mobile te dizendo que você não precisa de um smartphone gamer caríssimo para ser gamer de celular.

Vivemos em uma sociedade (sempre quis usar isso) em que se consegue ter o desempenho de um top de linha gastando muito pouco.

Seria o mesmo que ter a possibilidade de comprar um “PC Gamer barato”, que vai rodar tudo de boa em “1080p no alto”, sem gastar 5 vezes mais.

Quer alguns exemplos?

É possível achar o Black Shark 3 com preços de até R$ 2.500 no Aliexpress. Um smartphone gamer do ano passado custando menos da metade dos atuais.

Mas digamos que você não quer gastar tanto assim. É possível comprar o Poco X3 ou Infinix Zero 8i por R$ 1.200.

Quer marcas mais conhecidas? Que tal um LG G8 por R$ 1.300, com Snapdragon 855? Veja esse vídeo aqui do Canal Geek Antenado, muito bom para quem quer economizar.

Opções existem aos montes, mas no Brasil a galera insiste em comprar smartphones meio-boca com Exynos, e depois sonhar com aparelhos super-faturados. Não dá para aturar essa insistência em sofrer.

Por fim, a realidade é que por mais que sejam muito interessantes, por terem leds RGB (afinal, RBG dá FPS[ironia]), ninguém precisa desembolsar R$ 6 mil para ter um desempenho top em jogos de celular.

A coisa piora quando você analisa que o ROG Phone 5 não tem o Snapdragon 888+. Isso indica que a ASUS pode lançar uma variante mais potente do ROG Phone 5 em breve.

Porém, no momento, não há necessidade para um investimento desse porte. Você pode optar por opções muito mais baratas ou esperar pelo Snapdragon 888+.

Os Snapdragons 865, 865+ e até o 855+, suprem perfeitamente a demanda atual e até futuro de jogos mobile para os próximos 3 anos.

E você o que acha? Deixe um comentário!

  • Dario Coutinho

    O "Gamer de Celular" Original. Criou um dos primeiros sites sobre jogos para celular em 2007, que viria a se tornar o Mobile Gamer Brasil em 2009. Formado em Ciência da Computação, escreve sobre tecnologia há mais de 16 anos. Com passagem por revistas de games (EGW, Arkade) e sites renomados como Techtudo. E-mail para contato: [email protected]

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9 comentários em “O problema do “Smartphone Gamer””

  1. Muito bacana o artigo, realmente é essa a realidade da coisa… talvez lá no exterior faça mais sentido ter um smartphone gamer afinal os preços são outra realidade lá, mas por aqui não faz sentido algum! em quem sã consciência vai preferir pagar 6K em um smartphone do que comprar um PS5 mais um smartphone intermediário pelo mesmo valor?! quem é gamer vai quer jogar games cada vez melhores e me desculpa o canal, mas infelizmente game mobile já é mal visto a muito tempo por quem gosta de jogar, os jogos não tem enredo, gameplay simples demais com mecânicas nenhum pingo inovadoras e até abestalhadas demostrando a preguiça em explorar esse lado (o botão automático presente em vários jogos demonstra isso), o que entristece é ver a cada jogo que a ganância das produtoras fica cada vez mais evidente em cada jogo que é lançado, então pra que pagar pra ter um smartphone phone fodastico se não tem jogo que preste?! na minha opinião a unica coisa que tem sentido usar toda essa potência é em emuladores!

    Só ressaltando que ainda existem alguns jogos mobile que são exceção a esse meu comentário, tais como Pascal Wager e Forgotten Memories que na opinião deveriam ser de fato considerados jogos mobile dignos de serem disponibilizados.

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  2. Eu trabalho com desenvolvimento de aplicativos e nas horas vagas brinco de desenvolver jogos mobile. Um Smartphone potente sempre foi necessário. Possuía um Pocophone F1 que servia para todos os fins, porém esse ano queria algo mais Premium, já que o F1 tem o acabemento de plástico… Comprei de promoção o Samsung Galaxy Note 10 Plus, e o celular além de ser maravilhoso e com as especificações lá em encima, comunica muito bem com os outros aparelhos Samsung que tenho em casa. As vezes acho que o nome “Gamer” acaba trazendo algumas desvantagens no preço e ofuscando alternativas tão potentes quanto.

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  3. Que papo é esse de “Smartphones meia boca com Exynos”?

    Fiquem sabendo que o Exynos mais recente tem um desempenho excepcional, a diferença entre o Snapdragon e de menos de 2%
    E se serve de exemplo tenho um S10+ que roda tudo bem tranquilo, e ainda sobra muita bateria pra processar outras tarefas, e ele é Exynos
    Então não precisa colocar na cabeça do pessoal que Exynos é pra “smartphone meia boca”
    Exynos é excelente!

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    • Acho que quando ele se referiu ao processador Exynos, foi em relação aos básicos da Samsung com preço de intermédiario Premium, pois de fato, pela falta de conhecimento, muitos brasileiros compram Samsungs com processadores horríveis, podendo opinar por outras opções muito melhores e com o mesmo preço.

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  4. Excelente artigo!!

    Hoje, ao meu ver, para games mobile, acho que ipads são os campeões, em especial a linha pro, que possui um poder gráfico muito forte, bateria excelente, fora a telona de 120hz, conecta um controle e pronto, vira um “console portátil” a depender dos games é claro kk….mas, como sabemos, o preço é algo proibitivo e fora da realidade no Brasil. Até porque é outra categoria, smartphone vc carrega no bolso, tablet não.

    Mas é aquela coisa, hoje, com apple arcade e alguns games premium, existem umas opções de games tão avançados que ficaria inviável ficar horas segurando o smartphone nas mãos, logo, no meu iphone só jogo games mais casuais, ou fps para partidas rápidas, porém, quando quero ficar horas jogando um game mais elaborado, tablet é outra mundo, mas exatamente porque é a experiência que mais se assemelha aos consoles, até porque, no caso da linha pro, com o emprego do conector type c, conecto ele num hub e com cabo HDMI ligo na TV, sento no sofá e pronto, virou um “console” kkkk

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