A História do N-Gage, o celular videogame da Nokia

Em outubro deste ano (2013), o Nokia N-gage completa 10 anos. O smartphone foi a tentativa da Nokia para entrar no mercado de jogos portáteis e concorrer diretamente com aparelhos como Sony PSP e Nintendo DS. O celular gamer da Nokia tinha uma tela pequena e preços elevados, ele chegou ao mercado custando por volta de R$ 1.700,00. Confira a história desse aparelho que cimentou o cenário para o mercado de jogos para celular.

O N-Gage era o celular/smartphone videogame da Nokia (Foto: Divulgação)
O N-Gage era o celular/smartphone videogame da Nokia (Foto: Divulgação)

 

De volta para o passado

Estamos em abril de 2003, esqueça celulares Java com processador de 1GHz e smartphones com processadores de múltiplos núcleos e telas Retina. O primeiro N-Gage, denominado posteriormente por “Classic”, tinha tela de apenas duas polegadas e processador ARM de 104mhz. O Nokia N-Gage Classic tinha 13,36 cm de comprimento por 6,95 cm de largura e 2 cm de altura. Comparados com outros videogames portáteis lançados na mesma época, costuma-se dizer que ele é a versão melhorada de um Gameboy advance, pois oferecia um hardware parecido, mas com a comodidade de ser também um celular.

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Confira as especificações do smartphone

Especificações técnicas
Nome: Nokia – N-Gage
Sistema: Softwares Symbian OS (com Java 2 Micro Edition (J2ME))
WAP: xHTML
Tela: 176 x 208 px de 4096 cores
Memória 3.4 MB
Slots de expansão: MMC (Para Games)
Tons de Ring : MIDI / MP3 / ACC / WAV
Bateria : 850 mAh Li-Ion.
Conectividade : Bluetooth
GPRS:Class B / 3+1 / 2+2
HSCSD: 43.2 kbps
PC Sync:SyncML
Dimensões x Peso: 134 x 70 x 20 mm, 137 gramas.
Preço de lançamento nos EUA : $ 350 (Vendido no Brasil na época por R$ 1.700,00)

O anúncio do N-Gage,  para o público alvo, os gamers, ocorreu na mítica E3 (Electronic Entertainment Expo) em maio de 2003. A Nokia, líder no mercado de smartphone nesse período, resolveu entrar no mundo dos games.

Apresentação do N-Gage na E3 de 2003 (Foto: Nokia)
Apresentação do N-Gage na E3 de 2003 (Foto: Nokia)

Vídeo de apresentação do N-Gage na E3:

Entrevista com o Diretor Sênior da Nokia, Ilkka Raiskinen durante o lançado do N-Gage.

A entrevista em si, feita pelo Site Kikizo, vale apenas para ouvir Ikka Raiskinen, Diretor Sênior da Nokia, citar palavras como “Social Gaming” e “compartilhar”, isso há 10 anos atrás. O mais legal e bizarro do vídeo, é ver parte da conferência de apresentação do aparelho para a imprensa, com cantores de rap e uma mulher tirando a roupa para apresentar o preço do smartphone, que pena que a moda não pegou. Mas a conferência entrou para a história como uma das mais bizarras de todos os tempos, perdendo apenas atualmente para a da Qualcomm na CES 2013.

Híbrido de nascença, o N-Gage causou estranheza no mercado, por ser o primeiro de sua geração a incorporar e ser “vendido” como um celular, game portátil e player de MP3. Para carregar os jogos era necessário comprar cartões MMC que exigia que o usuário trocasse de cartões caso quisesse ouvir músicas ou acessar dados de outros cartões.

A aparência do smartphone era de que ele estava mais próximo de um game portátil do que de um celular comum. A  Nokia trabalhou em especial neste aparelho para construir algo resistente, durável e que tivesse uma boa autonomia da bateria Para jogar era necessário manter o aparelho na horizontal. A tela do N-Gage era vertical, uma tendência para a época, mas que se revelaria um do motivos do aparelho ter fracassado posteriormente.

Outro motivo para o fracasso do N-Gage era ao atender ou fazer chamadas telefônicas, o aparelho que parecia ideal para games virava algo bizarro ao fazer uma ligação em público. Seu formato estranho virou motivo de piada na Internet, onde o N-Gage era comparado a um “taco”, comida mexicana.

Chamado de Side Talking esse “problema” resultou em uma rejeição grande  que aliada a outros problemas resultou em uma vida curta para o N-Gage. A Nokia ainda tentaria novamente com o N-Gage QD, lançado em 2005, uma versão melhorada que apesar de corrigir erros do seus antecessor ainda trazia uma tela pequena e preços elevados.

O público alvo do N-Gage era os adolescentes, o aparelho foi lançado oficialmente em Outubro de 2003 e teve lançamento também no Brasil com ampla publicidade em revistas de games. Se R$ 1.700, 00 pode parecer um valor razoável hoje em dia, imagine há 10 anos atrás.

Hoje em dia, o aparelhinho da Nokia virou raridade entre Geeks colecionadores, principalmente para os amantes da “tecnologia móvel”. Alguns cartões com jogos do N-Gage chegam a custar mais caro do que custavam na época o lançamento do celular.

De cima para baixo: Gameboy Advance, N-Gage Classic e N-Gage QD (Foto: IGN)
De cima para baixo: Gameboy Advance, N-Gage Classic e N-Gage QD (Foto: IGN)

 

OS JOGOS (O mais importante)

O N-Gage tinha o potencial gráfico semelhante ao GameBoy Advance, porém pela insistência dos desenvolvedores em fazer jogos 3D, muitas vezes as pessoas pensavam que ele tinha o poder de um Playstation One. A biblioteca de jogos do N-Gage é pequena com apenas 63 jogos no total. Na realidade foram 64 jogos, se contar com um game que vinha no CD de instalação do N-Gage QD.

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Lista com todos os jogos lançados para N-Gage, cada link leva para o site ovigaming, onde será possível conferir uma descrição e imagens do jogo.

Video com uma coletânea impecável de jogos do N-Gage, se você é colecionador, pegue um balde ou lenço.

 

N-Gage Arena (A primeira rede social de games mobile)

N-Gage Arena permitia baixar jogos e jogar online (Foto: Divulgação)
N-Gage Arena permitia baixar jogos e jogar online (Foto: Divulgação)

O N-Gage foi o primeiro smartphone onde era possível jogar online com outras pessoas. Vários jogos eram compatíveis, em outros era possível apenas compartilhar pontuações. Dentro dessa rede criada pela Nokia, também era possível baixar trailer, fazer downloads de demos de jogos e ler notícias sobre seus games preferidos. Nem precisamos dizer que o Mobile Gamer foi criado tendo a N-Gage Arena como inspiração.

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Morte e sobrevida do N-Gage
Após sua morte prematura, devido a vários problemas como preço elevado e SideTalking, o N-Gage teve uma ótima sobrevida, em parte pelo “destravamento” do aparelho, o que permitiu que vários usuários baixassem os jogos ilegalmente sem a necessidade de comprar os caros cartões MMC. Muitos softwares também eram facilmente pirateados sem necessitar de nenhum crack ou número serial, com isso, o usuários achavam normal, encher o N-Gage com jogos e aplicativos piratas.

Ainda que fosse uma prática ilegal, tal atitude revelou o potencial do aparelho, que iria além, do que a Nokia havia previsto. Era possível ver filmes com ótima qualidade, navegar na web com o navegador Opera, usar MSN e muito mais. Grande parte dos aplicativos que nasceram naquela época, tem versões para Android, iOS, Windows Phone e outros sistemas, hoje em dia.

Outro fator que deu uma sobrevida ao N-Gage foram os emuladores. Graças ao seu formato de videogame portátil e ao seu hardware, era possível jogar confortavelmente jogos do Mega Drive, Game boy Color e Super Nintendo. Alguns emuladores conhecidos são Vboy, PicoDriver, VSUN e SMS PLUS.

O Adeus do N-Gage

E inegável que embora tenha sido um fracasso comercialmente, o N-Gage pavimentou toda a estrada para que os jogos de celular e smartphones ganhassem a visibilidade que temos hoje. Ainda que as pessoas não quisessem o aparelho N-Gage para jogar, elas queriam seus jogos em outros celulares. E foi por isso que a Nokia apostou em uma segunda versão, mas rebatizando como uma plataforma e não como um smartphone.

Nós todos sabemos onde essa história foi parar. A Nokia sempre teve um grave problema de compatibilidade e distribuição que dificultava a vida dos desenvolvedores e também dos consumidores. Acreditando muito pouco em um mercado de enorme potencial. Hoje, o N-Gage é passado, mas ainda sim, um passado importante dos jogos de celular.

    by
  • Dario Coutinho

    O "Gamer de Celular" Original. Criou um dos primeiros sites sobre jogos para celular em 2007, que viria a se tornar o Mobile Gamer Brasil em 2009. Formado em Ciência da Computação, escreve sobre tecnologia há mais de 16 anos. Com passagem por revistas de games (EGW, Arkade) e sites renomados como Techtudo. E-mail para contato: [email protected]

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