Resident Evil Village no iOS, um port “CRU”, mas necessário [review]

Resident Evil Village é impressionante no iPad, mas nem tanto no iPhone 15 Pro. Leia o nosso review.

Em 2010, quando Infinity Blade foi lançado para iOS, foi a primeira vez que os produtores de games, acionistas e até gamers mais conservadores olharam para o mobile com espanto. Um jogo de celular havia se equiparado visualmente a um console de videogame da geração atual.

Infinity Blade era mais resumido, mas em sua repetição utilizava várias técnicas da Unreal Engine 3 e espantava com texturas em HD e efeitos de reflexos e iluminação.

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De lá para cá, muita coisa mudou, o mercado mobile iria passar por várias revoluções, apostando mais em games casuais e…

Em 2023, o espanto e o queixo dos gamers tradicionais novamente foram ao chão ao ver que Resident Evil Village foi lançado, fidedignamente, para o iOS em um port perfeito. RE Village chegou com todo o seu conteúdo nos dispositivos da maçã, incluindo as DLCs mais recentes.

Mas e aí, será que esse port faz jus ao legado de Resident Evil? Vamos analisar.

RE Village no iOS, como isso foi possível?

Antes de começarmos a nossa análise, vale a pena esclarecer uma dúvida muito comum, especialmente de muitos fãs do Android que literalmente “tiltaram” ao ver o anúncio de Resident Evil Village e outros jogos no iOS: Como a Capcom e a Apple conseguiram colocar RE Village no iPhone 15 Pro e iPads?

Essa é uma questão que já debatemos aqui várias vezes, e que inclusive já foi comentada por desenvolvedores como o de Oceanhorn 2. Desde o iPhone, desde o 8, possui um processador mais potente que o do Nintendo Switch.

Os smartphones atuais são muito mais potentes que um Nintendo Switch, mas há um grande problema: o mercado consumidor.

Desde 2014, o mercado de jogos mobile não é direcionado para jogos premium, mas sim para experiências curtas e casuais que você pode largar a qualquer momento.

É claro que há outros problemas técnicos e de software como bateria e o fato de um celular ter “outras tarefas principais” além de “jogar”, mas você entendeu, né?

Mas tudo começou a mudar em 2019 com o lançamento do Apple Arcade. A Apple fez realmente um bom trabalho, de parceria e desenvolvimento chamando os desenvolvedores, ajudando-os e dando até incentivos milionários para desenvolvedores indie.

A parceria com a Capcom, por exemplo, começou em 2021, o próprio Tim Cook, CEO da Apple, foi ao Japão apresentar a nova tecnologia de escalonamento de imagem para jogos do iOS, o MetalFX Upscaling.

Essa nova tecnologia, combinada com o Game Porting Toolkit, que ajuda a trazer jogos do PC mais facilmente para o Mac e, posteriormente, para o iOS.

 

O que é o MetalFX Upscaling?

Apple não é “status”, empresa investiu muito para trazer games de PC para Mac e iOS.

O MetalFX Upscaling é uma tecnologia onde o jogo é renderizado em uma resolução mais baixa e depois é feito o escalonamento para uma resolução maior.

A tecnologia é muito parecida com a FidelityFX Super Resolution (FSR) da AMD, mas no MetalFX é utilizado núcleos “neurais” de inteligência artificial presentes nos processadores de dispositivos da Apple.

O MetalFX Upscaling, no RE Village, conta com duas opções: performance e qualidade.

 

Resident Evil Village no iPhone 15 Pro

É possível jogar no “médio” se você travar o jogo a 30 FPS. (Foto: Youtube/Mr.McRight).

E como Resident Evil Village se sai no iPhone 15 Pro?

É impressionante ver um celular rodando Resident Evil Village, um jogo da geração passada de consoles, nativamente. Entretanto, RE Village roda melhor na configuração já estabelecida para o aparelho.

Ao iniciar RE Village no iPhone 15 Pro, o jogo estará rodando a 720p com configuração gráfica mista “baixo-médio”, que é suficiente para o jogo ser executado por horas sem travamentos.

Entretanto, ao tentar forçar alguma configuração para melhorar os gráficos, o iPhone 15 Pro até consegue rodar o jogo em 900p com configuração mais elevada, porém, é essencial utilizar um cooler para resfriamento.

O A17 Pro do iPhone 15 Pro é um chip potente, mas que superaquece rapidamente. Sem um resfriamento ativo, é essencial para quem busca uma qualidade gráfica maior ou vai espelhar a tela.

Sobre o MetalFX Upscaling perder resolução frente à renderização nativa, isso já é algo esperado.

O A17 Pro é potente, mas boa parte do processamento de upscaling é feito pelos núcleos “neurais” do processador, que sofre bastante pela falta de poder de fogo em sua CPU.

Por fim, essa perda de resolução fica imperceptível ao olhar em uma tela de 6 polegadas. A impressão que se tem, em uma tela tão diminuta, é que o jogo está rodando melhor do que realmente está.

Aqui está uma dica de como configurar o iPhone para ter um desempenho razoável sem cooler para rodar bem a 30 FPS.

E aqui está uma configuração para rodar melhor a 900p, mas nesse caso, recomendo o uso de um cooler com “peltier”.

 

Resident Evil Village no iPad Air (M1)

Botões virtuais surgem ao tocar na tela, mas somem segundos após utilizar um controle Bluetooth.

Nos iPads, o desempenho de RE Village é simplesmente impressionante.

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É possível inclusive conseguir rodar o game da Capcom a 60 FPS com uma resolução relativamente alta e modo “performance” do MetalFX.

Joguei sessões de 3 horas em 3 horas no iPad Air M1 e o tablet realmente ficou bem quente. Ao jogar com o FPS travado em 30 FPS, e configuração recomendada (a que vem no momento de inicialização do game), o aquecimento ainda existe, mas é bem inferior.

No iPad Air M1, é possível jogar a 30 FPS com qualidade gráfica no máximo e resolução maior que FullHD (1920×1440) e MetalFX no modo qualidade. Nessa configuração, o jogo fica impressionante e o iPad esquenta, mas não de forma insuportável como em 60 FPS.

iPads M1 e M2 conseguem rodar RE Village a 60 FPS no Ultra graças ao MetalFX

Não possuo iPad M1 Pro de 16 GB ou com M2, mas nos testes do MisterMacRight, isso não pareceu fazer diferença.

 

Vídeo do canal Mr.MacRight:

 

 

Resident Evil Village no iPhone 15 Pro foi um erro?

Commercializado principalmente para iPhone 15 Pro e Pro Max, é interessante ver que quem se deu bem com RE Village foram os donos de iPads com M1.

Quem trouxe uma luz sobre o possível problema de superaquecimento do iPhone 15 Pro foi o Digital Foundry. Segundo eles, a falta de performance no iPhone 15 Pro se deve à falta de poder de fogo da CPU. Já chips com M1, que possuem até uma GPU mais fraca, tiveram uma performance muito superior (a maior quantidade de área para dissipação de calor deve ter ajudado também).

No momento da produção deste review, a Apple lançou uma nova atualização para RE Village no iOS, contudo, não tenho mais o iPhone 15 Pro para testes, apenas o iPad Air M1.

 

Um port “cru”

Como diria o cozinheiro mais “brigão” de todos os tempos, está “cru”.

Resident Evil Village é um port com pouquíssimas adaptações para a interface touchscreen.

O game é controlado através de botões na tela que simulam o layout de botões do Xbox. O jogador precisa mover os botões até para escolher as opções do menu.

A única interação touch “tradicional” é ao movimentar a câmera.

O port de RE Village é tão cru que a Capcom apenas configurou uma configuração padrão para iPhone e iPad que é facilmente perdida ao mexer no menu de configurações gráficas.

Calma que piora. No iPhone, é possível travar o jogo ao configurar os gráficos para uma maior quantidade de RAM do que a disponível no smartphone. Diferente de iPads, que não reservam RAM para “Modem e outros serviços de telefonia”, no iPhone 15 Pro, não se tem 7 GB de RAM livre, como nos iPads, na realidade é menos de 6GB.

Gameplay minha, jogando no iPad Air M1:

 

Jogabilidade

Resident Evil Village não é muito divertido de se jogar via touch, com botões na tela, mas se essa for a única opção, é possível habilitar uma assistência de mira alá “Free Fire”. A mira cola nos inimigos e isso facilita muito a vida de jogadores menos experientes.

Faltou um carinho maior da Capcom na personalização dos botões na tela e na adaptação da jogabilidade para o mobile.

Apesar da experiência ser interessante, ela fica melhor mesmo é com um controle como o GameSir X2 ou um controle de videogame conectado via Bluetooth.

Ao conectar um controle, a imersão se intensifica, e em poucos minutos, você esquecerá que está jogando em um celular.

O game vem com todas as DLCs, inclusive a que deixa o título em terceira pessoa, transformando a experiência e a deixando com mais cara de Resident Evil tradicional.

No quesito “jogo”, Resident Evil Village é incontestável, uma excelente aventura com pitadas de horror clássico que foge um pouco dos RE clássicos, mas entrega um tom de exploração e descoberta muito satisfatório.

30 FPS e MetalFX Quality salvam RE Village no iOS. (Foto: Reprodução)

Veredicto

Imperdível para usuários de iPads com M1 e M2, Village é um capítulo essencial não só da franquia Resident Evil, mas também da história dos games mobile. É impossível jogar esse game e não se lembrar de Resident Evil 4 Mobile, lançado em 2009 para iOS.

É fantástico estar vivo para ver essa evolução do mobile e ver como o futuro será brilhante para os usuários da plataforma, que terão opções de sobra para jogar, seja online via nuvem (Geforce Now ou xCloud) ou offline com ports como esse.

Minha nota para Resident Evil Village no iOS é 9/10, poderia ser um 10/10 se houvesse um carinho maior com o jogo no iPhone.

 

    by
  • Dario Coutinho

    O "Gamer de Celular" Original. Criou um dos primeiros sites sobre jogos para celular em 2007, que viria a se tornar o Mobile Gamer Brasil em 2009. Formado em Ciência da Computação, escreve sobre tecnologia há mais de 16 anos. Com passagem por revistas de games (EGW, Arkade) e sites renomados como Techtudo. E-mail para contato: [email protected]

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